A VERDADE DE CLEÓPATRA —A Memória é a Verdadeira Máquina do Tempo

Esse romance histórico-psicológico é aquele tipo de leitura que nos envolve de tal forma que, quando percebemos, já estamos completamente imersos. Acabamos vivenciando o que está escrito ali — talvez por isso a dificuldade de ler e sustentar as memórias que vêm à tona durante a leitura. O texto nos prende ao mundo da personagem e, ao mesmo tempo, oferece um certo distanciamento que nos permite refletir sobre nós mesmos.

Na introdução, achei incrível a colocação da autora ao dizer que já quebrou o “feitiço infantil de paz e segurança”. É mesmo difícil prometer aos outros — e a si mesmo — que “vai ficar tudo bem”, porque nem sempre vai. Ir para dentro, mergulhar no próprio mundo interior, sempre me pareceu se lançar num furacão. Mas ir para fora, para o mundo, também é. É preciso coragem para se aventurar no inconsciente; de fato, assusta, porque nunca se sabe exatamente o que vamos encontrar por lá. Eu mesma, muitas vezes, evitei esse mergulho por medo de me perder dentro de mim. Não há garantias, não dá para controlar tudo — e essa falta de controle, confesso, me inquieta profundamente. Quando pensamos que temos o controle, ele é sempre ilusório, forçado, passageiro.

Na parte do Voltei, Cleópatra fala e deixa pistas do que está por vir. Dá uma certa água na boca ouvir a história de um personagem tão famoso contada por ela mesma. Fiquei com a certeza de que ela, quem quer que tenha sido, foi uma mulher extraordinária. Mas… o que sabemos sobre o passado é sempre aquilo que querem que saibamos. Muita gente é apagada da história, e quando não pode ser apagada, é distorcida conforme os interesses políticos. Uma máquina do tempo para conhecer o passado seria perfeita… Mas será que o nosso inconsciente não pode ser essa máquina? Parece que o livro vai nos mostrar o caminho para chegar até lá.

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