A dor que desmascara

A dor tem esse poder brutal e necessário: ela nos despedaça para que possamos nos ver com mais limpidez. Cada fratura, cada sombra que emerge do abismo interior nos revela algo que antes estava oculto sob as camadas de ilusão e de defesa. Foi assim comigo. Em meio às quedas e às pedras afiadas do meu caminho, precisei encarar algo ainda mais incômodo: o ódio. Um ódio antigo, visceral, que me atravessou como uma lâmina invisível. Hoje sei de onde ele vinha — e por que ressurgiu justamente naquela hora. Mas, naquele tempo, só havia uma pergunta me corroendo: o que era aquilo?

É preciso descer aos porões da alma, mergulhar no lodo, tropeçar sobre pedras pontiagudas e cortantes que massacram o corpo e a psique. Ainda assim, aquele era o Caminho. Eu não podia saber de antemão. Só podia continuar. Afundar e emergir, refletir, sangrar, e seguir adiante… sempre em busca da pérola mágica que só se encontra no fundo mais escuro da lama. (Sarah, Vol. 1, Cap. 3 de A Verdade de Cleópatra)

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A VERDADE DE CLEÓPATRA —A Memória é a Verdadeira Máquina do Tempo